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Creation date | 2015-08-15 10:20:31 | |||
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Geralmente não faço isso. Ou seja, geralmente não levo muito tempo para contar a alguém como me converti ao Islã, ou devo dizer, como voltei para o Islã.
Sabe, quando as pessoas descobrem que se tornou muçulmano, fazem sempre as mesmas perguntas. Como seus pais reagiram? Estava apaixonado por uma muçulmana? Você é aceito dentro da comunidade muçulmana como convertido?
Mas acima de tudo, as pessoas me perguntam: Por que se converteu ao Islã?
Acho chocante que até muçulmanos me perguntem por que me converti ao Islã. “Bem, essa é a verdadeira religião, lembra?” é a minha resposta usual. Não bati meu carro em uma árvore e quase morri, não tive um momento em que vi a luz. Nem sei exatamente me tornei muçulmano.
Algumas pessoas ficam surpresas, mas eu nem estava procurando Deus. Não estava procurando uma razão na vida. Não estava procurando um propósito.
Na verdade, estava só procurando um livro. Entrei em uma livraria sem saber o que compraria. Deve ter sido nos anos de 2003 ou 2004. Gosto de ler, com interesse especial em livros vendidos nas seções de “história recente”, “filosofia” e “sociologia”.
Foi lá que um livro verde chamou minha atenção. Era chamado “Islam; Values, Principles and Reality” (Islã: Valores, Princípios e Realidade, em tradução livre). Segurei-o em minha mão, olhei e percebi que conhecia alguns muçulmanos, mas não tinha nenhuma ideia de em que acreditavam.
Entretanto, o Islã é mencionado o tempo todo nas notícias e parece influenciar assuntos domésticos e internacionais. Decidi comprar o livro e ver o do que se tratava essa religião. Caminhei até o guichê e comprei o livro, sem imaginar a jornada de quatro anos e meio na qual tinha acabado de embarcar e que me levaria direto para minha shahada (testemunho de fé).
Antes de começar a ler sobre o Islã já tinha em mente algumas associações negativas relacionadas a essa religião. Por exemplo, me perguntava como um muçulmano praticante podia se considerar uma boa pessoa devota ao mesmo tempo em que oprimia sua própria esposa.
Ou, me perguntava por que os muçulmanos adoravam uma pedra cúbica em Meca, se estátuas ou construções não têm poder e não podem ajudar ninguém.
Não podia entender por que muçulmanos eram tão intolerantes com outras religiões, ao invés de simplesmente dizer que todos acreditam no mesmo Deus. Com isso em mente, comecei a ler.
Depois do primeiro livro, veio o segundo. Depois do segundo, o terceiro e assim por diante. Após alguns anos tinha lido alguns livros sobre o Islã e estava muito surpreso. Descobri que quase tudo que pensava ser parte do Islã e ao qual me opunha, o Islã de fato também se opunha.
O profeta Muhammad, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, tinha dito que se pode ver o quanto um crente é bom pela forma como trata sua esposa. Descobri que os muçulmanos não adoram a Caaba e que, ao contrário, se opõem à adoração de estátuas ou assemelhados.
Descobri que a civilização islâmica em toda a sua história - exceto talvez os períodos mais recentes - foi o melhor exemplo de tolerância religiosa na face da terra.
Não tive que ser convencido sobre a maioria das coisas que o Islã nos diz para fazer ou como comportar, pois constatei que já concordava com muitas regras básicas antes de aprender sobre o Islã. Li minha própria opinião sobre muitos assuntos, mas os livros continuavam dizendo “isso é Islã”.
Não havia muita Dawah sendo feita na minha vizinhança na época. Bem, não de forma proativa. A ajuda que consegui foi o que perguntei quando conversava com as pessoas ao meu redor. Isso não diz tudo sobre como a dawah é organizada nos Países Baixos. Eu apenas não tinha pessoas ao meu redor que estivessem muito envolvidas nisso.
Então, quando veio o Ramadã decidi experimentar - nenhum livro pode lhe contar como realmente é - fui até meus colegas de trabalho muçulmanos e contei que jejuaria com eles. Comprei um Alcorão e achei a programação de 30 dias na internet.
Quando disse aos demais sobre ler o Alcorão inteiro e jejuar em Shawwal [o mês lunar depois do Ramadã], alguns deles nunca tinham ouvido falar a respeito ou feito isso. Comprei leite e tâmaras para o trabalho e expliquei que era uma sunnah para ser seguida. Suas mães ou esposas cozinhavam as refeições que comíamos no trabalho e, assim, experimentei algumas comidas novas também.
Aprendi muito naquele Ramadã e o mesmo aconteceu com os outros. E nos divertimos muito. Meu primeiro Eid foi um funeral, mas em relação ao resto, foi um mês maravilhoso.
Depois do mês de Ramadã fui à mesquita pagar meu zakat. Percebi que dar dinheiro para uma boa causa é a coisa certa a fazer e, por isso, não ser muçulmano não era razão para eu não pagar.
Foi aqui que encontrei pela primeira vez o tesoureiro da mesquita em minha cidade. Ele perguntou se eu era muçulmano. “Não senhor, não sou muçulmano”, foi minha resposta, “mas jejuei o mês de Ramadã.”
Ele me disse para ir devagar e não me apressar.
Os meses passaram e continuei lendo livros sobre Islã. A maioria dos livros que li eram de não muçulmanos, como Karen Armstrong. Também levei um tempo para ler o que as pessoas diziam de negativo em relação ao Islã. Li sobre terrorismo religiosamente motivado, sobre conflitos entre civilizações e assim por diante.
Entretanto, constatei que para cada pergunta que pudesse fazer, o Islã tinha uma resposta convincente. Isso não significa que os muçulmanos com quem falei sempre tivessem uma resposta convincente, mas a maior parte das informações que coletei sobre o Islã veio desses livros.
No final do Ramadã seguinte, fui à mesquita pagar meu zakat. Encontrei o tesoureiro novamente e ele me reconheceu. Ele perguntou, novamente, se eu era muçulmano.
“Não senhor, não sou muçulmano”, foi minha resposta, “mas o senhor me disse para ir devagar, certo?”
Ele calmamente balançou a cabeça e disse: “Sim, ir devagar, mas não tão devagar!”
Comecei meu último ano como não muçulmano. Já tinha parado de consumir álcool. Parei de fumar. Tentei me estimular e aos demais a fazer o bem, e a me prevenir e aos demais de fazer coisas erradas.
Fui para a Turquia no feriado e visitei o interior de algumas das grandes mesquitas. A cada passo que dava, a cada dia que passava, podia sentir o crescimento da presença de Deus em minha vida.
Observei a natureza e, pela primeira vez, pude ver que o que estava na minha frente era sinais do Criador. Tentei orar algumas vezes - algo que nunca tinha feito - o que obviamente não se parecia muito com a forma como oro hoje. Continuei lendo, mas agora também comecei a obter informação sobre o Islã na internet.
Em Hyves, uma rede social holandesa popular, fui abordado por uma convertida holandesa. Ela perguntou se eu era muçulmano e disse a ela que ainda não era. Pediu que fosse até a casa dela e encontrasse seu marido. Ele era muçulmano de nascimento, praticante, nascido no Egito.
Ele e eu jantamos juntos e então conversamos o resto da noite sobre Islã. Na segunda vez que fui lá ele me mostrou a forma correta de orar (a meu pedido). Tentei fazer o melhor que pude enquanto ele me observava tentar. Quando demos um pequeno intervalo, ele me fez uma pergunta.
“Então, você acha que está pronto para fazer isso?”
“Sim, acho que estou pronto.”
Percebi que já tinha me tornado muçulmano. Não tinha feito minha shahada ainda e não era oficial, mas em algum momento nos anos anteriores tinha me tornado muçulmano. Tinha passado a acreditar que não há divindade a ser adora além do verdadeiro e único Deus, o Criador.
Que Muhammad era Seu mensageiro, o mensageiro final, que tinha participado na conclusão da religião. Queria jejuar, pagar zakat, fazer meu salah (orações) e ainda sonho com o hajj todos os dias.
Meu caminho foi através de livros, vim através da teoria. Foi uma escolha racional, não emocional. Olhei para a informação que estava lá, comparei e contemplei. O Islã era a resposta para todas as perguntas. Uma ou duas semanas depois, eu e ele fomos para a mesquita em sua cidade. Ele já tinha falado com o imame e eles sabiam que eu estava indo. Meu pai foi junto e levou uma câmera.
O imame disse a shahada, aos poucos. Repeti, aos poucos.
Enquanto o imame recitava uma duaa [súplica], meu irmão egípcio a traduzia para holandês para mim. Senti como se tivesse corrido muitos quilômetros e alcançado agora a linha de chegada. Digo literalmente. Estava sem fôlego, como se tivesse estado correndo. Lentamente recuperei meu fôlego, me senti calmo e feliz.
De repente percebi, finalmente, que tinha me tornado Nourdeen.
Fui à mesquita em minha cidade. Quando entrei no prédio, encontrei o tesoureiro. Ele perguntou, novamente, se eu era muçulmano.
“Sim, senhor, e meu nome é Nourdeen!” Disse com um sorriso.
“Alhamdulillah,” ele respondeu, acrescentando com rapidez: “... finalmente!”